O TEMPO IMPREVISÍVEL
A vida acontece entre dois sentimentos, ambos repletos de terror: esperança e medo. A imprevisibilidade que a esperança excita, anima; o futuro indeterminado, apavora. Debaixo do céu, nunca se sabe o que acontecerá.
No dia do parto, esperança. Na certeza da morte, medo.
Na semeadura, esperança. Na desproteção de que uma praga forçará a perda da lavoura, obrigando que se arranque o que foi plantado, medo.
No dever de ter que assassinar (mesmo internamente) pessoas e sentimentos, medo. Na expectativa do bálsamo, poção que cura feridas impronunciáveis, esperança.
Na semeadura, esperança. Na desproteção de que uma praga forçará a perda da lavoura, obrigando que se arranque o que foi plantado, medo.
No dever de ter que assassinar (mesmo internamente) pessoas e sentimentos, medo. Na expectativa do bálsamo, poção que cura feridas impronunciáveis, esperança.
Na convicção de que os projetos estejam fadados ao nada, medo. Na teimosia de continuar a soerguer, reinventar ou reconstruir, esperança.
Na antecipação de muitas lágrimas, medo. No desejo de que os risos se alonguem, esperança.
Na antecipação de muitas lágrimas, medo. No desejo de que os risos se alonguem, esperança.
Na insegurança do luto, nas câmaras lúgubres do velório, medo. Na valsa suave e delicada, no arrepio de corpos que se tocam durante a melodia, esperança.
Na crispação de lábios, na segurança de mãos arremessando pedras, medo. No juntar de pedras que ferem e com elas montar altares, esperança.
Na improvisação do abraço, esperança. No cálculo da distância segura que separa os insidiosos de abraçarem, medo.
Na improvisação do abraço, esperança. No cálculo da distância segura que separa os insidiosos de abraçarem, medo.
Na busca do que jamais se imagina perder, esperança. Na resignação de que algumas dimensões da vida nunca serão recuperadas, medo.
No anseio de segurar e eternizar, esperança. Na conformidade do imperativo de deixar o tempo arrastar para o oceano do nada o que foi vivido, medo.
No anseio de segurar e eternizar, esperança. Na conformidade do imperativo de deixar o tempo arrastar para o oceano do nada o que foi vivido, medo.
No desespero de saber que algumas dimensões carecem de serem rasgadas, descosturadas, medo. Na perseverança em dar mais um ponto, alinhavo ou remendo, esperança.
No discernimento do momento de tornar o silêncio maçã de ouro em bandeja de prata, esperança. No ímpeto de frisar um solene não quando todos dizem sim ou de negar quando a ordem for afirmar, medo.
Na capitulação de aceitar que homens e mulheres, ao contrário dos bichos, guerreiam por maldade nunca por motivos justos, medo. Depois da batalha, da vala comum, do túmulo do soldado desconhecido e da sucata bélica, esperança.
o Rei Salomão, o sábio Pregador em ECLESIASTES, meticuloso, notou o modo como Deus sobrecarregou homens e mulheres: não deixou nada previsível. Todo o dia traz um potencial de angústia e desespero bem como de alegria e de boas perspectivas.
A pior das inquietações descansa na alma: incerteza. Ninguém consegue se antecipar ao porvir e nunca saberá esquadrinhar o que espera depois da morte. A eternidade não faz sentido para os finitos, a imortalidade não cabe no coração dos mortais.
Devido a esse derreamento existencial, nessa prostração infinita, homens e mulheres nunca terão a resposta final para o porquê dos atos divinos: não sabem como foi o começo e só especulam sobre o fim de tudo.
Soli Deo Gloria - Ricardo Gondim