terça-feira, 26 de março de 2024

PARA SER GRANDE TENHO QUE ME TORNAR MENOR

 PARA SER GRANDE TENHO QUE ME TORNAR MENOR

 

“Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva, e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo.” (Mateus 20.26-27)

Esse alerta foi dado pelo próprio Jesus aos seus discípulos enquanto respondia ao pedido ambicioso feito pela esposa de Zebedeu (provavelmente Salomé, cf. Mateus 27.55-56 e Marcos 15.40-41) em favor de seus filhos Tiago e João (cf. Marcos 10.36).

Como cristãos, é inegavelmente difícil viver esse ensinamento deixado por Cristo frente a um modelo de sociedade que despreza os valores morais e, mais do que isso, as coisas espirituais.

 

A lógica trazida pelo Filho de Deus contrariava e continua a contrariar os conceitos humanos, sendo causa de tropeço para alguns e fonte de graça e vida para outros (cf. Isaías 28.16; Romanos 9.32-33).

O maior no reino dos céus:

Não foi essa a primeira ocasião em que os discípulos discutiram acerca de suas “posições” no Reino, ou, em outras palavras, de quem entre eles seria o maior (Mateus 18.1-5; Marcos 9.33; Lucas 9.46-48).

À semelhança do nosso tempo, a preocupação por honra, poder e glória desempenhavam um significativo papel na mente daquele povo.

Vivemos em meio a uma sociedade ímpia (cf. Mateus 13.24-30) e, consequentemente, temos que conviver com pessoas cujos valores estão distantes daqueles ensinados por Cristo.

Foi essa a realidade no tempo de Jesus e é essa a realidade do nosso tempo.

Todavia, o grande dilema do nosso século é que os valores consagrados pelo mundo têm ocupado, aprisionado, e corrompido o coração de muitos cristãos.

 

Somos compelidos a ter, crescer, avançar, correr, conquistar… Aproveitar o tempo, agarrar as oportunidades, buscar o sucesso…

Afinal de contas, “o mundo não tem espaço para os fracos, não tem lugar para perdedores”. Quem sabe mais… Vai além. Quem tem mais… É melhor, tem primazia, pode mais.

Carregamos rótulos que nos identificam ou pela nossa filiação (Fulano, filho de Beltrano), ou pelos títulos que ostentamos (Beltrano médico, dentista, engenheiro, advogado), ou ainda pelos bens que possuímos (Fulano… Ele é dono de uma empresa. Ele tem um carro importado. (Viaja frequentemente à Europa. É herdeiro de uma fortuna).

Em um mundo com essas percepções, o ensinamento deixado por Cristo soa como uma piada, um contrassenso, algo completamente ilógico. Todavia, as lições de Jesus confrontam e condenam a superficialidade humana.

A lição de Jesus:

O pedido que fora feito pela esposa de Zebedeu, assim como a preocupação dos discípulos, revela um conceito que não condiz com o espírito da fé cristã.

Três erros podem ser depreendidos: O primeiro deles gira em torno da preocupação fulgaz dos discípulos quanto a quem seria o maior no reino dos céus, e isso em contraste com a preocupação de Jesus em favor da humanidade.

“Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras: o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles, porém, não entendiam isto, e foi-lhes encoberto para que o não compreendessem; e temiam interrogá-lo a este respeito.

Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.” (Lucas 9.44-46)

O segundo erro diz respeito ao ambicioso pedido feito por Tiago e João (Marcos 10.35-37) que falharam em colocar em prática o ensino de Jesus:

“E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (Marcos 9.35)

 

Por fim, percebemos a atitude indignada dos demais discípulos contra os filhos de Zebedeu, motivados, talvez, não por Tiago e João terem falhado em obedecer ao que Jesus lhes houvera dito, mas porque queriam os mesmos lugares de proeminência.

“Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João.” (Marcos 10.41)

A maneira abnegada de Jesus cumprir o seu papel messiânico, que é o primeiro e mais importante no Reino, oferece o padrão para seus discípulos em todos aqueles papéis secundários que eles podem desempenhar no reino de Deus.

Jesus desejava eliminar (nos doze e, por extensão, em todos nós) uma noção equivocada de poder e autoridade.

“Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” (Marcos 10.42-44).

O que finalmente quebrou o coração dos discípulos e deve compungir o nosso é o exemplo que Jesus dá de si mesmo: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45).

O Filho do Homem, que herdará “domínio, e glória, e o reino” (Daniel 7.14), veio como um servo.

Os grandes no reino de Deus:

1) Dos ambiciosos, Jesus exige sofrimento leal até a morte: “e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (Mateus 10.38);

2) Dos orgulhosos, exige o serviço mais humilde: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou” (João 13.13-16);

 

3) Dos grandes, exige submissão aos outros, como se exige de um servo: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Efésios 5.21).

Conclusão

Ser “bem nascido”, possuir títulos, alcançar sucesso financeiro, todas essas coisas não são em si mesmas ruins; afinal de contas, Deus as concede a alguns servos seus. Todavia, “cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12.3). Ademais, não devemos nunca dedicar o melhor da nossa vida correndo atrás dos tesouros deste mundo.

“Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 10.26).

Possuir essas coisas, embora reconhecendo que as recebemos das mãos de um Pai bondoso e que, por isso, devemos usá-las para a glória do Seu nome: eis o caminho que nos coloca no lugar de servos os quais, à semelhança de uma criança (cf. Mateus 18.3), reconhecem a sua inteira dependência do Senhor e, alegremente, aceitam aquilo que não podem obter por si mesmos.

 

escrito por: Áurea Emanoela Holanda Lemos

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