Caro, porém gratuito
"Esmola grande até cego desconfia". Ditado que fala da raridade em alguém receber gratuitamente algo de grande valor. Esmola pequena, todo mundo dá. Une o útil ao agradável: alivia a consciência e não faz falta. Mas quando está envolvido um valor que pesa no bolso, a coisa muda de figura. Interesses entram em jogo. "Posso dar, sim. Mas o que vou receber em contrapartida?"
Em princípio, ninguém dá nada de valor a ninguém. Lavoisier poderia até ser parodiado em seu
famoso princípio: "Nesta vida, nada se dá, nada se recebe, tudo se negocia”. As grandes doações geralmente têm em vista o abatimento no imposto de renda, a lucrativa amizade dos poderosos e outras intenções, excluindo-se, é claro, os propalados gestos humanitários. Mas, tudo bem. Cada um faz com o seu dinheiro o que bem entender. Alguns estão acostumados a usá-lo até para comprar a "dignidade" e o respeito da sociedade. Pois é, tem muita coisa à venda por aí...
E é com essa mentalidade formada, que muitos partem para a mais ousada das empreitadas: comprar a própria salvação. Não sabem ao certo o que esse salvação significa ou a razão da sua necessidade. Mas, isso não é problema. Infelizmente a vida é muito corrida, não há tempo suficiente para um exame mais profundo sobre o assunto, tempo é dinheiro, o importante é não vacilar e investir nessa área, garantindo logo um lugar no céu ("Se é que esse lugar existe", como devem pensar uns). E pronto. Assunto resolvido, Afinal de contas, quem paga pode exigir, tem direito.
Ainda mais quando o pagamento é adiantado!
Ironia? Não, meu amigo. Esta é a situação de milhões de pessoas que, talvez até inconscientemente, tratam a salvação como um mero produto de consumo. Chocante? Concordo. Mas é a realidade. E é aí onde entram as esmolas e as doações de caridade.
Certa vez eu assistí o assessor de um rico empresário chamar a sua secretária e mandá-la destinar mensalmente, por ordem do chefe, uma soma altíssima para uma entidade filantrópica, Quando a moça saiu, ele comentou comigo sobre o patrão: "Ele faz horrores nos negócios e agora pensa que vai comprar a entrada no céu, dando dinheiro para os pobres!"
Não tenho nada contra esmolas e doações. Ao contrário. A Bíblia recomenda que se ajude os mais necessitados. Os orfanatos, casas de misericórdia e asilos são instituições de alto valor humano-social e merecem ser ajudados. O problema é o propósito que leva a pessoa a doar. Se
fosse a pura e simples compaixão pelo próximo, tudo bem. Mas, na maioria das vezes, o motivo é egocêntrico. E a doação tem a finalidade de beneficiar a si próprio. Ou aliviando a consciência
carregada ou dando uma sensação de conquista, por ter feito mais uma boa ação que, somada a outras, lhe dará direito a uma absolvição final.
Infeliz propósito. Jamais será alcançado. Essa idéia de ganhar a salvação através de boas obras, de merecimento próprio, é contrária à Bíblia: Basta citar o seguinte: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef. 2.8.-9).
Além de afirmar textualmente que a salvação não vem pelas obras, esse trecho ainda diz porque: para que ninguém se glorie! Ninguém vai chegar no céu mostrando orgulhosamente um recibo de boas obras. O homem quer conquistar e dominar tudo. E até que tem conseguido grandes coisas.
Mas existe algo que nenhum homem na face desta terra terá o prazer: afirmar "eu comprei à minha própria salvação".
A salvação foi adquirida exclusivamente par uma Pessoa, o Senhor Jesus Cristo. E não com dinheiro vil, mas com o Seu próprio sangue, de valor infinito. Para gozar essa salvação basta ter fé, crer, aceitar para si o sacrifício de Cristo. Ora, tudo isso é de graça! Não adianta querer desembolsar nada. Todos os bens deste mundo, seja dinheiro, ouro, imóveis, títulos, ações, fazenda, gado, tudo junto, não conseguiria comprar a vida eterna de uma só pessoa.
Imagine um pai presentear o filho com uma bicicleta cara, último modelo, e assistir o menino puxando do bolso uma moeda de cinco centavos e dizer: "Pronto, papai, aqui está o pagamento".
Patético. Por parte do garoto, uma mistura de ingratidão, ingenuidade e orgulho; por parte do pai, certamente muita tristeza.
Da próxima vez que você for dar uma pequena esmola, ou uma grande doação, apenas agradeça a Deus pela oportunidade de ser útil a alguém. Mas nunca pense que aquilo vai ajudar a pagar uma salvação que o Senhor Jesus já pagou. E que, para ser sua, basta somente você recebê-la com arrependimento, humildade e gratidão.
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