quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

TRÊS DOLÁRES DE DEUS


TRÊS DOLÁRES DE DEUS 

Conta-se que um crente chegou para o pastor da sua igreja e disse: “pastor, eu gostaria de comprar três dólares de Deus. Apenas três dólares – o suficiente para me dar um sono tranqüilo à noite, mas que não me faça perturbar com a má sorte dos negros; que seja suficiente para me fazer dormir, mas que não me faça sofrer com os miseráveis nas favelas. 

Eu quero só três dólares de Deus – que me dê arrepios, mas que não me transforme; que me dê cura divina, e não, cura interior. Eu quero três dólares de Deus – que me dê o calor de um ventre e de um útero, mas que não me faça nascer de novo. Três dólares de Deus, por favor, em saquinhos de papel -  que me garanta o pão de cada dia, mas que não me deixe inquieto com as crianças que não têm o que comer. 

Pastor, três dólares basta - o suficiente para proteger a minha casa e os meus bens, mas que não me deixe perplexo com a situação dos que dormem debaixo dos viadutos. Um quilo basta – suficiente para me abrir as portas do céu, mas que não me exija abrir os olhos para ver a maldade do meu coração, e abrir os ouvidos para o clamor daqueles desesperados me estendem a mão. Pastor, me dê três dólares de Deus”.

Esta estória acima retrata com cores bem vivas a realidade do cristianismo que a maioria de nós tem vivido – um cristianismo sem compromisso, um cristianismo interesseiro – de consumo, no qual reduzimos Deus à categoria das ampolas de morfina, dos analgésicos, e o que o que é pior – dos utilitários. Não queremos Deus – queremos apenas aquilo que de “bom” Ele pode proporcionar. 

Não O procuramos por aquilo que Ele é, mas por aquilo que Ele pode nos dar. Não o buscamos porque O desejemos, mas porque O reconhecemos como imprescindível para alcançarmos os nossos planos pessoais. Na hora da crise, uns se agarram às drogas, às bebidas, aos psicotrópicos; nós recorremos aos nossos suficientes e seguros "três dólares de Deus". Afinal, queremos de Deus apenas o suficiente para “ficar de bem com a vida”.

Queremos um cristianismo – um cristianismo que nos levante, nos deixe pra cima, “com um alto astral”, mas que não nos fale de sacrifício, de renúncia, de perdas. Queremos, sim, um cristianismo, mas um cristianismo indolor, sem sofrimento – um cristianismo sem cicatrizes – que não nos deixe marcas. 

Queremos, sim, um cristianismo que nos tire do inferno, mas que não nos tire de nosso conforto e de nossa comodidade; que fale de amor, mas que não nos faça ver as realidades chocantes das favelas e das ruas das grandes cidades.

Como é triste esse tipo de cristianismo que tem surgido em nossa geração. Um cristianismo de doses homeopáticas, dos “três dólares de Deus” – quantidade que nos serve e que nos é suficiente para os problemas do dia a dia.  De verdade nós precisamos voltar urgentemente ao verdadeiro cristianismo. 

Ao cristianismo da graça, mas que não é barata e nem prostituída por nosso descompromisso com a verdade; que salva do inferno, mas que também liberta dos grilhões do pecado; que nos dá paz, mas não nos deixa tranqüilamente indiferentes aos paradoxos e contradições sociais do mundo em que vivemos; que nos fala do céu, mas não nos aliena da nossa responsabilidade de transformarmos essa terra num mundo melhor.

José Kleber Fernandes Calixto


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