Igreja:
Aspectos fundamentais
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Trabalhamos para o crescimento da Igreja em toda a sua plenitude, tanto no
que tange à qualidade como à quantidade. Se alguma coisa é boa, certamente
trará resultados numéricos. No entanto, partimos dos aspectos fundamentais que,
uma vez cultivados, propiciarão o incremento da Obra em toda a sua extensão.
Vamos a eles.
Genuíno e crescente interesse pela Palavra de Deus. “Não é a Igreja que faz
a Palavra, mas a Palavra que faz a Igreja”. A centralidade da Palavra no Culto
e na vida foi defendida tenazmente pelos reformadores como fundamento para a
renovação da Igreja. Se queremos ser fortes espiritualmente, precisamos nos
comprometer com o estudo e a meditação da Palavra de Deus. No dizer do Apóstolo
Paulo, devemos ser mais “apegados à Palavra” (Tito 1.9).
Vemos com muita satisfação que, praticamente em 100% das atividades que
promovemos na vida de nossa Igreja, temos a oportunidade de proclamar a
Palavra. Este exercício espiritual, traz benefício a todos, tanto aos crentes, que
são edificados, como aos que ainda não se converteram, mas poderão fazê-lo
justamente porque a Palavra é a eles ministrada. Para alguns, isto será motivo
de consolo, para outros, de advertência. Na vida deste irmão, tal meditação
poderá resolver uma crise; já, na vida daquele, será a oportunidade de uma
reconciliação. E assim por diante.
Jesus observou que até mesmo os religiosos se equivocavam porque
desconheciam as Escrituras (Mateus 22.29). O mesmo se repete em nosso tempo.
Boa parte dos problemas em que nos envolvemos é fruto da não observância do que
nos recomenda as Escrituras. Se fossemos mais atentos ao que diz a Palavra de
Deus acertaríamos mais na vida.
Não estamos interessados em aprender as Escrituras Sagradas apenas para ter
um conhecimento histórico e, quem sabe, com muita facilidade, recitar de
memória certas passagens bíblicas. Tal destreza poderá ser muito útil quando
formos convocados a dar o nosso testemunho de fé a quem não conhece a Palavra
de Deus. No entanto, uma vez tendo aprendido as Escrituras, devemos colocá-la
em prática. É preciso ouvir e refletir, para então viver e praticar; do
contrário, poderemos estar construindo casas sobre a areia (Mateus 7.26-27).
Tudo o que fazemos na vida toma tempo. Na vida moderna, alguns serviços e
atividades estão sendo agilizados com o objetivo de valorizar o nosso tempo.
Mas para aprender as Escrituras é preciso separar um tempo
Todos os dias, tire um tempo para ler a Bíblia e nela meditar. Deus estará
falando ao seu coração. Seja aluno da Escola Dominical, a Escola da Palavra;
não deixe de trazer a sua Bíblia a toda e qualquer reunião da Igreja. Participe
de um dos Núcleos Familiares e trabalhos das Sociedades Internas; nestes
encontros, temos oportunidade de conhecer mais ainda a Palavra de Deus. Isto
será uma bênção para você e sua família, e para a Igreja e o mundo, também.
Vimos, como de fundamental importância para a Igreja, o crescente interesse
pela Palavra de Deus. Agora, desejamos falar sobre a vida de oração. Os
cristãos não detêm o monopólio da oração. Em outras religiões a prática da
oração é usual e, em alguns casos, muito intensa. No entanto, no cristianismo,
a oração se constitui num gesto de muita liberdade dos filhos de Deus para com
o Senhor Deus.
Não são necessários protocolos infindáveis, lugares determinados,
especialistas no assunto. O que se exige é o desejo de buscar a Deus:
“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração”
(Jeremias 29.13).
Este caminho de liberdade de comunicação com Deus é fruto da iniciativa
divina em vir ao nosso encontro. Não somos nós que buscamos a Deus em primeiro
lugar (I João 4.19). “Ele nos amou sendo nós, ainda, pecadores” (Romanos 5.8).
Como resposta ao gesto divino, manifestamos nossa necessidade de comunhão com
Deus, pois sabemos que podemos encontrar nele os tesouros da vida.
Somos assim atraídos pela misericórdia divina para andarmos em íntima
comunhão com Deus. Não, apenas, para declararmos a Deus as nossas necessidades,
que ele conhece muito bem, mas para termos os nossos passos orientados na
direção dos seus propósitos para conosco. Assim se expressou o salmista: “a
intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua
aliança” (Salmo 25.14). Quando oramos, revelamos verdadeiro temor de Deus e,
estamos aptos a compreender os caminhos do Senhor.
Em que sentido a vida de oração se constitui num princípio fundamental para
o progresso da Igreja? É mister reconhecer que a oração, via de regra, tem se
tornado uma prática de profunda individualidade dos filhos de Deus. Não
estamos, com isto, criticando aquilo que Jesus recomendou nestas palavras: “tu,
porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai,
que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mateus
6.6). Jesus estava condenando a atitude dos religiosos que se exibiam e cuja
oração era totalmente inconsistente.
O que nos preocupa é o egoísmo das nossas orações, revelado inclusive quando
participamos das próprias reuniões de oração. Levamos a estes encontros nossas
solicitações particulares. Até aí nada de mais. O problema vem a lume quando
destes encontros não levamos para nossa oração em particular os motivos
comunitários, a intercessão pela Igreja, pelo país, pelo mundo, pelos
missionários, pelos que sofrem.
A oração é vital para a Igreja, na medida em que os crentes se utilizam dela
para terem os seus olhos bem abertos, a sua visão bem alargada, para aquilo que
Deus está fazendo, através da própria Igreja. Podemos e devemos orar em favor
uns dos outros; não, porém, para uma mera satisfação pessoal, mas para o
progresso do Reino de Deus, visando sempre a glória do Senhor.
Nos dois últimos comentários, afirmamos que genuíno e crescente interesse
pela Palavra de Deus e vida de oração são aspectos primordiais na Igreja de
Cristo. Bíblia e Oração, devem sempre andar juntos, manifestando o intenso grau
de comunhão com Deus.
O aspecto que desejamos ressaltar, agora, diz respeito à Liderança da
Igreja. Antes de tudo, temos bem claro que Cristo é o cabeça (Colossenses
1.18), Senhor da Igreja e do Universo; a doutrina da soberania de Deus é muito
cara a nós, de tradição reformada. Mas quando nos referimos à liderança,
queremos destacar aqueles que se acham na função de conduzir a Igreja sob o
comando de Cristo. A recomendação bíblica é que tais pessoas devem ser
acatadas, já que realizam este trabalho no Senhor, ou por causa do Senhor (I
Tessalonicenses 5.12).
A liderança da Igreja não está restrita ao exercício de um cargo. É bom que
os líderes ocupem os cargos e que os cargos sejam ocupados por pessoas que
sejam verdadeiramente líderes. Mas eventualmente podemos encontrar líderes que
não desempenham um papel definido na estrutura da Igreja; muitas vezes, porque
não há tantos cargos a serem preenchidos.
A liderança pode ser inata; há pessoas que revelam capacidade para liderar
desde muito cedo. Outros, porém, são colocados na linha de frente e precisam se
esforçar muito para corresponder à expectativa. No entanto, é imprescindível
que se leve em consideração o chamado divino para o exercício da liderança. Não
importa, se inata ou adquirida, a liderança no seio da Igreja deve ter origem
no chamado de Deus. Aquele que é chamado não pode fugir à vocação (Jonas 1.3).
Por outro lado, aquele a quem Deus chama, tem no próprio Deus a garantia do
sustento desta vocação. Deus não chama para depois abandonar.
Além da vocação divina, é mister atentar para o verdadeiro papel da
liderança. Muitas vezes confundimos liderar com dominar, liderança com
mandonismo. O Apóstolo Pedro repudiou esta compreensão e recomendou aos líderes
que não fossem dominadores, mas modelos (I Pedro 5.3). Ser líder é ir na frente
na expectativa de que outros venham atrás. E o método para conseguir esta
proeza não é o autoritarismo, mas o exemplo. O líder deve ser “padrão dos fiéis
na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (I Timóteo 4.12). Sendo
assim, quem pode liderar?
Todo crente pode liderar, se Deus assim o chamar. Os pré-requisitos
espirituais e morais do líder não se diferenciam das exigências básicas de cada
crente. O que se espera ver no líder é o mesmo que devemos ver nos liderados.
Os graus de santidade que muitas vezes propomos não correspondem ao padrão
bíblico; pensamos: em tal posição de liderança, mais fé e mais exemplo; num
nível intermediário, quem sabe fé seja suficiente; e do crente em geral, nem fé
é esperado. Grave equívoco. Líderes e liderados devem ter a mesma postura
diante de Deus e dos homens.
Sobre este tema, já falamos do genuino e crescente interesse pela Palavra de
Deus, da vida de oração e da importância da liderança da Igreja. De certa
forma, temos olhado para dentro de nós mesmos, numa visão interna da Igreja.
Agora precisamos olhar para fora e demonstrarmos intensa Visão Missionária.
“Não é possível que o maior alvo da Igreja seja o crente como indivíduo;
Deus deseja toda a humanidade para si” (Hendrikus Berkhof). A Igreja não existe
para si, mas para o serviço de Deus no mundo. Todos os elogios que possamos
prestar à realidade da comunhão dos santos, de sua vida harmônica, de seu
ambiente fraterno, perderão o significado se a vida da comunidade não se
dirigir para alcançar a todos os homens.
Podemos afirmar, num sentido bem amplo, que a Igreja não tem razão de ser,
apenas, para si mesma. Ao contrário, ela deve direcionar o seu olhar para os
outros, porque toda a humanidade deve estar na Igreja. Neste ponto, Charles Van
Engen indaga: “se a Igreja é para todos, por que nem todos estão na Igreja?” A
resposta deverá ser buscada no atendimento ao desafio evangelizador que cabe à
Igreja.
Sua missão é proclamar o Evangelho da graça de Deus a todos os homens. Boa
parte da humanidade não se encontra na Igreja porque ela tem falhado em seu
papel evangelizador. Há uma íntima afinidade entre comunhão e evangelização. A
Igreja está inserida no contexto do mundo, justamente, para proclamar o
Evangelho da graça de Deus aos homens.
A militância da Igreja que aguarda sua condição de triunfo se dá neste
contexto. Daí, a expectativa da Igreja triunfante em meio à sua existência no
mundo tira-lhe o desafio evangelístico. Não fosse a proclamação de que foi
incumbida, e a Igreja já poderia ter deixado a vivência terrena para ir gozar
as mansões celestiais. No entanto, prevalece a condição original: a Igreja
permanece no mundo.
De outro lado, ela fica no mundo como comunidade congregada, demonstrando à
humanidade as características vivenciais do Reino de Deus. Através de sua
estrutura e conteúdo ela pode apresentar-se ao mundo como a alternativa de
vida, convocando a todo homem a participar da comunhão dos santos. De certa
forma, temos tanto uma comunhão evangelizadora, como uma evangelização que traz
à comunhão.
O apóstolo Paulo achava-se em prisão quando remete Epafrodito e diz ter a
intenção de enviar Timóteo (Filipenses 2.19, 25). Certamente não era um momento
em que ele se sentisse muito resguardado e em condições de abrir mão de
companhias tão prestimosas. No entanto, sua visão do Reino o levou a incentivar
o deslocamento de seus companheiros de ministério.
Temos falado sobre a importância de querer estar juntos como fator para o
crescimento da Igreja. As pessoas atravessam muitos quilômetros para se
encontrarem e adorarem juntos a Deus. Mas em algumas situações é preciso
perceber o chamado de Deus para não mais congregarmos aqui ou ali, mas irmos mais
adiante onde o Senhor deseja que realizemos o nosso ministério visando ao
incremento do Reino.