Batismo
de fogo
Batismo de fogo é batismo do Espírito Santo
?
Recebi a seguinte mensagem dum irmão de
Manaus, capital do Estado da Amazónia.
Amado, li os estudos sobre o batismo e muito
fiquei esclarecido com suas explicações. Creio também que não devemos nos
considerar mais santos ou melhores porque nos batizamos por imersão ou
aspersão, pois somos elos de uma mesma corrente unidos por Jesus. Porém, quero
aproveitar novamente esta oportunidade para perguntar-lhe alguma coisa
referente a esse assunto.
Em Mateus 3:11 e Lucas 3:16 (citados no seu
estudo), diz que Jesus batizaria com o Espírito Santo e com fogo, enquanto que
em Marcos 1:8 e João 1:33 (também citados no seu estudo), diz que Jesus
batizaria com o Espírito Santo.
Irmão Camilo, os versículos em questão se
referem a um só batismo (com o Espírito Santo) ou a dois batismo (com fogo),
uma vez que a partícula “e” dá entender que são duas acções ?
Pergunto isso porque recentemente tem-se
ensinado muito aqui em Manaus sobre o batismo de fogo, que conforme os
referidos ensinos, é um outro batismo. Por outro lado, Marcos 1:8 e João 1:33
só citam um batismo.
Será que o amado irmão poderia, na medida do
possível, dar-me uma explicação ou algum esclarecimento?
Caro Irmão
A pergunta que me colocas, tem dividido
muitos entendidos em teologia e não podemos assumir uma atitude intransigente
nessa interpretação, mas posso dar-te a minha opinião sobre o assunto.
Julgo que a principal dúvida é o resultado
de pensarmos que estamos perante passagens paralelas (descrições diferentes do
mesmo acontecimento). Mas nada nos garante que estes evangelistas nos estejam a
descrever o mesmo acontecimento.
Nem Mateus, nem João estiveram o tempo todo
ao lado de João Batista, Marcos nessa época ainda era um menino e o médico
Lucas, só dezenas de anos mais tarde foi investigar o assunto para escrever o
seu evangelho.
Examinando com atenção as passagens que me
indicaste, penso que estamos perante descrições de dois acontecimentos
diferentes, passados em duas ocasiões diferentes ou até, possivelmente isso
terá acontecido várias vezes no ministério de João Batista, pois todos os dias
as multidões o procuravam.
Digo isto, porque quando se tem uma dúvida,
devemos em primeiro lugar procurar a explicação no contexto dessa afirmação.
Assim, vamos ver em que condições estava João Batista, com quem é que ele
falava, e procurar qualquer informação que nos ajude a compreender o seu
pensamento. Vejamos concretamente se a palavra “fogo” aparece nos versículos
mais próximos, pois em afirmações próximas, que transmitem o mesmo pensamento,
é natural que as palavras, quando repetidas, tenham o mesmo significado.
Vejo que agrupaste, e muito correctamente,
as passagens em dois grupos.
Marcos 1:8 e João 1:33
Vejamos em primeiro lugar Marcos 1:8, mas
lendo desde o versículo 4 até ao 8.
Com quem falava João Batista ? Ele falava
com aqueles que eram batizados confessando os seus pecados. Eram verdadeiros
pecadores arrependidos que se apresentavam com humildade, assim como João Batista
que nada pedia para si.
O mesmo podemos ver em João 1:33, efectuando
a leitura desde o versículo 19 até ao 34.
Inicialmente havia os sacerdotes enviados de
Jerusalém, mas parece que estes já tinham voltado para Jerusalém, pois no vr.
29 diz: “No dia seguinte...”
Portanto, nesse dia, quando Jesus veio a
João Batista, só devia haver umas poucas pessoas humildes e possivelmente os
discípulos de João.
Nestas duas passagens, Marcos 1:8 e João
1:33, João Batista falava só para os pecadores arrependidos que o procuraram, e
a quem ele não tinha dúvidas em batizar. É a estes que ele afirma que só os
poderia batizar com água, mas Jesus os iria batizar com o Espírito Santo.
Mateus 3:11 e Lucas 3:16.
Vejamos agora estas passagens que me
indicaste.
Em Mateus vamos ler desde Mateus 3:4 até
3:12.
Nos versículos 3 a 6, a descrição é idêntica às
outras. A diferença começa no versículo 7 onde aparece um tipo diferente de
pessoas, que de maneira alguma eram pecadores humildes e arrependidos.
João Batista estava perante dois tipos de
pessoas: Os pecadores arrependidos e os crentes arrogantes que continuavam a
confiar nas suas tradições e rituais.
Havia, segundo a teologia de João Batista,
dois destinos. Para uns o batismo do Espírito Santo simbolizado no bom trigo
que seria recolhido e guardado no celeiro (vr.12) e para outros o machado que
os iria cortar para os queimar (vr.10), ou a palha que seria queimada (vr.12).
Todas estas comparações estão relacionadas com o fogo e como dissemos, é
natural que João Batista tenha utilizados a palavra fogo e todas as referências
ao fogo (queimar), sempre com o mesmo significado.
O mesmo podemos concluir em Lucas 3:16.
Vamos ler desde o vr. 7 até ao 18.
Logo no vr. 7, vemos que João Batista estava
perante os dois tipos de pessoas.
No vr. 9 temos a mesma comparação das
árvores que produziam bons ou maus frutos e o machado para cortar umas e deixar
outras.
No vr. 16 os mesmos dois destinos, ou o
batismo com água ou o batismo com fogo.
No vr. 17 a mesma comparação do destino do trigo
guardado no celeiro ou da palha queimada pelo fogo.
Eu penso que, se o apóstolo João não estiver
a descrever o mesmo acontecimento que Mateus, então será outro muito
semelhante, em que as condições eram as mesmas e mesmo foi o ensino que João
Batista nos deixou, e isso, o pensamento e o ensino de João Batista, é o mais
importante para nós.
É esta a minha opinião, que me pediste.
Penso que há dois tipos de batismo, assim
como dois destinos no futuro:
Para uns o batismo do Espírito Santo e para
outros o batismo de fogo que significa castigo e destruição.
Penso que não tem bom fundamento bíblico a
doutrina do “batismo de fogo” que alguns identificam com o “batismo do Espírito
Santo”.
Não encontrei a expressão “batismo de fogo”
nas traduções que tenho.
A palavra fogo aparece várias vezes no Novo
Testamento, significando castigo, destruição e por vezes purificação pelo fogo,
ideia relacionada com a purificação dos metais no Velho Testamento (Malaquias
3:2).
Só em Actos 2:3 aparece a expressão “línguas
como que de fogo” ou “como línguas de fogo”, conforma as traduções, o que é um
caso isolado e uma base muito fraca para se firmar a doutrina do batismo de
fogo relacionada com o batismo do Espírito Santo, além de nesse versículo, não
aparecer propriamente a expressão “fogo”, mas “como que de fogo”.
Mas gostaria de te agradecer por me teres
alertado para estas passagens.
Principalmente esta última em Lucas 3:7/14.
É que isto obriga-nos a pensar e a sentir-nos em falta perante o Senhor.
Afinal, com quem é que nos parecemos, quando
falamos nos pecadores que estão lá fora ? Quando nos sentimos de certa maneira
seguros porque já fomos batizados, já somos membros da igreja, e até podemos
ser diáconos ou evangelistas, ou pastores etc ?!!...
Quais os frutos que temos produzido ? O que
temos ensinado nas nossas igrejas ? Geralmente, tudo gira à volta do sustento
pastoral e construção de templos.
João Batista não se preocupou com o Templo
de Jerusalém, nem com as sinagogas.
Infelizmente, as multidões dos nossos dias
já não perguntam o que devem fazer, pois damos a resposta antes mesmo deles
perguntarem.
Mas será que os nossos ensinos são os mesmos
de João Batista que encontramos em Lucas 3:10 e 11 ? "E a multidão o
interrogava, dizendo. Que faremos, pois? E, respondendo ele, disse-lhes: Quem
tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da
mesma maneira." Quais as nossas prioridades ? A ajuda aos necessitados ou
a construção de igrejas e o sustento da nossa “classe sacerdotal” ?
Nestas passagens, João Batista rejeita os
“espirituais”, para aceitar os pecadores como os publicanos e os soldados,
possivelmente até soldados romanos estrangeiros.
Que o Senhor te abençoe, querido irmão, e
que Ele te conceda o seu Espírito Santo, que de maneira alguma te irá pedir
esse tipo de “suicídio intelectual” a que muitos chamam de “conversão”, mas bem
pelo contraio, não irá prescindir de toda a tua capacidade intelectual, para a
purificar, para a ampliar e colocar ao Seu serviço.
Todo o verdadeiro crente deve ser um profeta
dos nossos dias e um verdadeiro profeta não é o que segue a rotina da teologia
do seu tempo ou o que aprendeu na igreja ou no seminário, mas o que investiga o
pensamento do Mestre e se levanta e fala em nome do Senhor, quando o Mestre o
chamar.