Adore ao Senhor e Renda-lhe Glória
Adoração não é uma opção, é uma
obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a
única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma outra assembléia
pode fazer. Não estou certo de que estejamos fazendo isto.
William Temple
disse: “A única coisa que pode salvar este mundo do caos político e do colapso
é a adoração. A única esperança do mundo
é a igreja e a única esperança da igreja é o retorno à adoração. Deus precisa
transformar o Seu povo e a Sua igreja antes que Ele possa operar através de nós
a fim de saciar as necessidades cruciais de um mundo perdido no pecado. Cada
ministério da igreja deveria ser um subproduto da adoração. Ministério
divorciado de adoração não tem raízes e portanto não pode produzir frutos que
permaneçam.
Não se trata de
escolher um ou outro. Por exemplo, nenhuma igreja abandona o evangelismo quando retorna à adoração. Ao
contrário, com isto enriquece o evangelismo e
dá-lhe profundidade espiritual.
Um retorno à adoração não destrói uma boa comunhão. No mínimo coloca
naquela comunhão um fundamento muito mais sólido do que café com bolinhos ou
chá com biscoitos.
Entretanto eu não
estou tentando convencê-lo de que uma volta à adoração é algo fácil. Não é.
Um motivo disso é
que, dada a natureza humana como ela é, nós não temos um desejo natural de
buscar o Senhor e chegar mais perto Dele. Só o Espírito Santo de Deus pode
criar dentro de nós o desejo profundo de adoração, de dar a Deus nossa adoração amorosa
completa. Antes que o Espírito possa nos
levar até aquele lugar, precisamos tratar com os nossos pecados, e tratar com
os nossos pecados não é uma tarefa fácil.
Um
outro obstáculo é o nosso apa-rente sucesso. “A igreja está indo bem”, dizem os
oficiais, “e as contas estão sendo pagas; por que complicar as coisas?” Sempre
que eu converso sobre adoração com as pessoas, ouço o seguinte: “Mas algumas
das maiores igrejas do mundo não sabem nada de adoração e Deus as está
abençoando.” Somente Deus sabe como vão realmente as coisas em qualquer
igreja... Mas eu sinto que nem tudo vai bem com algumas das igrejas
“bem-sucedidas”.
Cada vez mais,
algumas das “grandes igrejas” estão tendo dificuldades em encontrar “grandes
pastores” para ocuparem os seus púlpitos. Em algumas cidades os crentes saltam
de uma igreja para outra buscando muito mais “pregações profundas e
eloquentes” do que vida cristã prática. A igreja que eles vão
escolher depende de quem está no púlpito, e hoje há uma grande variedade de
celebridades evangélicas que com certeza arrastam multidões. O fato de que
algumas delas possam não ter o melhor desempenho em seus lares ou em sua vida
pessoal não parece ser importante para aqueles membros da igreja que estão
buscando somente um passatempo para um fim de tarde.
Um retorno à
adoração poderia ser uma ameaça para aquele pregador que gosta de ser
importante e de brincar de Deus nas vidas das pessoas do seu rebanho. Ou para o
pregador que aperfeiçoou de tal modo um sistema de preparação de sermões que
sempre consegue um bom esboço e tema a cada semana. Ou para o pregador que é
tão bom na plataforma que consegue “segurar a peteca” e manter a congregação
interessada e entretida.
Um
retorno à adoração pode ser uma ameaça para o músico que prefere mais tocar do
que ministrar, e que não tem nenhuma intenção de alinhar a sua vida no dia a
dia com a sua profissão domin-gueira.
Um retorno à adoração pode ser uma ameaça
para o membro da igreja que não quer ser perturbado. Ele preenche com fidelidade o seu lugar
semanalmente na igreja, paga os seus dízimos e de vez em quando realiza um
trabalho para a igreja; mas o que acontece na igreja não tem nada a ver com o
resto da sua vida. Ele vai levando e isso é o que interessa.
O que será
necessário
O que será necessário para nos motivar a
adorar a Deus? O que terá de acontecer para que desmantelemos nosso esfarrapado
showzinho religioso e construamos de novo um altar para o Senhor?
O maior castigo que Deus poderia aplicar nas
igrejas hoje seria retirar-se, e deixá-las continuar fazendo exatamente o que
estão fazendo. Uma vez ouvi A.W.Tozer
dizer: “Se Deus tirasse o Seu Santo Espírito deste mundo, o que estamos fazendo
continuaria sendo feito, e ninguém notaria a diferença.”
Oro para que Deus na Sua misericórdia não nos
abandone, mas nos dê outra oportunidade. Temos convivido com substitutos por
tanto tempo que se por acaso acontecesse um reavivamento de adoração, muitos
dentre o povo de Deus provavelmente o veriam como uma ameaça ao evangelho! Será
que nós queremos realmente adorar a Deus? Estamos realmente dispostos
a abrir mão de nossos brinquedinhos religiosos e trabalhar sério com Ele?
Podemos abandonar nossas visões pragmáticas de ministério na igreja (“Bem, mas
funciona! Não se pode argumentar contra
o suces-so!”) e voltarmos à visão bíblica de Deus?
Talvez Deus não pretenda nos deixar onde nós
estamos. Talvez Ele permita uma crise econômica que forçará as igrejas a
examinarem as suas prioridades e voltarem para as coisas que são mais
importantes. Talvez Ele permita perseguições, um “julgamento de fogo” que
separará o ouro da escória. Dias virão em que não seja tão popular pertencer a
uma igreja evangélica e quando o evangelicalismo não mais receberá o patrocínio
de pessoas importantes.
Ou talvez Deus trate
com crentes individuais aqui e ali, pessoas sinceras que confessem a sua
desesperadora necessidade de realidade espiritual. Talvez Ele sussurre para
algumas destas almas famintas que não estão satisfeitas com a rotina religiosa
de semana após semana, que sinceramente querem adorar a Deus e experimentar o
Seu poder transformador. Ele pode se aproximar daqueles poucos santos
resistentes que temem a Deus mais do que às pressões sociais, e que não se sentem
ameaçados por mudanças.
Na verdade você
poderia ser um destes santos!
Deus muda igrejas
mudando indivíduos. O coração de John Wesley foi estranhamente aquecido, e o
resultado foi um reavivamento que livrou a Inglaterra de um banho de sangue que
quase destruiu a França. A história da igreja está cheia de nomes de homens e
mulheres que transformaram igrejas e ministraram ao mundo, porque permitiram
que Deus os transformasse. Eles eram adoradores e guerreiros, e Deus os usou.
Eles eram transformadores, não conformadores. As suas vidas eram controladas
por um poder interno, não por pressões externas.
Eles
foram mal entendidos e criticados; foram
até aprisionados e mortos. O seu maior
inimigo era a instituição religiosa da sua época, os líderes religiosos
bem-sucedidos que de há muito perderam contato com a realidade espiritual e
estavam vivendo somente da sua reputação.
Onde você começa?
Você
começa na sua própria casa, na sua própria vida devocional. Você começa cada
dia com Deus - não na leitura de um devocional do tipo versículo–oração-poesia,
mas gastando tempo na Sua Palavra, em meditação e adoração, e em oração.
Tempo.
É aqui que começa a dificuldade. Nós não tiramos “tempo para ser santos”. Nós
nos satisfazemos com um “lanche (fast-food) religioso” que é embalado para uma
consumação rápida. Talvez um lanchinho seja melhor do que nada, afinal de
contas, mas é um substituto muito pobre para a adoração verdadeira.
A adoração
verdadeira toma tempo e uma das evidências de que estamos começando a progredir
na nossa vida espiritual é a paz que vem sobre a alma à medida que nos
colocamos diante do Senhor. Ficamos conscientes do tempo, mas não somos
controlados por ele. Alegramo-nos em
permanecer diante do Senhor, deleitando-nos com a Sua maravilha e a Sua
grandeza.
Este tipo de
experiência edificante é só para grandes santos e místicos? Claro que não! Foi um pescador que escreveu “E vimos a Sua
glória” ( João 1.14). E um outro
pescador escreveu “no qual, não vendo agora, mas crendo, exultai com alegria
indizível e cheia de glória!”(I Pedro 1.8). Você se lembra das palavras do
Salvador: “Graças te dou ó Pai, Senhor
do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as
revelaste aos pequeninos”? (Mateus 11.25).
Devemos começar com
as nossas próprias vidas, nossa adoração pessoal a Deus. E à medida que crescemos, não devemos
criticar os outros e tentar mudar tudo dentro da igreja. A verdadeira
transformação espiritual deve vir de dentro para fora. Precisamos ter cuidado com as mudanças
cosméticas que não afetam o coração da igreja. O cântico de hinos diferentes,
alteração da ordem do culto, ou mesmo as mudanças nos móveis da igreja, nunca
transformarão uma igreja. É preciso que
o Espírito atue nos corações, e isto toma tempo.
Nem deveríamos nos tornar em aquilo que
Evelyn Underhill chama de “intelectuais espirituais” que concordam em prestar
culto junto com os ignorantes e não espirituais, mas que prefeririam estar em
outro lugar gozando da atmosfera rica de um “verdadeiro” culto de
adoração. Nosso Senhor quando na terra
freqüentava a sinagoga e o templo, apesar de ambos estarem nas mãos de líderes
religiosos que resistiam à verdade.
Um transformador espiritual pode entrar até
num culto de crianças na Escola Dominical e experimentar a bênção e ser uma
bênção. Um transformador está sempre adorando a Deus, sempre sedento e
faminto de mais graça e glória de Deus, e sempre aberto a quaisquer influências
espirituais que o Pai possa trazer para a vida dele ou dela.
Sim, começamos conosco mesmos, e deixamos que
Deus trabalhe em nós e através de nós da maneira especial que é só Dele.
Evitamos imitar outros santos e, pela fé, permitimos que Deus nos desenvolva do
Seu jeito. Também evitamos copiar outras igrejas, sabendo que cada assembléia
local deve atender ao seu próprio chamado especial. Demorei muitos anos para
perceber que os pronomes pessoais nos versículos 12 e 13 do cap.2 de Filipenses
estão no plural: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; por
que Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa
vontade.” Paulo estava escrevendo para uma congregação inteira.
Assuma a liderança
Talvez você seja um pastor e esteja desejando
que a sua igreja desenvolva uma fome e uma sede pela realidade espiritual. Você
quer que eles adorem a Deus e se tornem em transformadores, de tal modo que a
igreja possa realmente ministrar para as necessidades que você vê em toda a
parte ao seu redor e pelo mundo todo. O que é que você faz?
Penso que o conselho acima se aplica a você e
aos líderes da sua igreja: Verifique se a sua própria experiência de adoração
está viva e crescendo. Se está, haverá uma nova ênfase e enriquecimento na
sua liderança do culto público, tanto quanto no seu ministério pastoral nos
lares e nos hospitais. Guarde zelosamente o seu tempo diário pessoal com o
Senhor. Pratique disciplina espiritual. Isto significa com certeza o
estabelecimento de algumas prioridades e o aprendizado de como dizer “não”; mas
este é o preço a ser pago. Você não
pode ser um transformador e agradara todos em toda a ocasião, e nem deveria
tentar.
Eu pastoreei três igrejas e tive o privilégio
de ministrar para muitos pastores e obreiros cristãos em conferências em muitas
partes do mundo.
Um dos problemas que eu vejo é que os ministros
estão carregando muita bagagem. Ao longo dos anos eles assumiram diversas
tarefas, clubes, associações, e por aí afora, e estão tentando cuidar de tudo
isto e ao mesmo tempo desempenhar o seu ministério. Esta bagagem extra toma
tempo para organizar e energia para carregar, e custa muito caro.
Se a adoração não resultar em nenhum outro
benefício para nós, pelo menos nos ajudará a descobrir quais as coisas que são
importantes; e ninguém precisa mais
disto do que o pastor ou o obreiro cristão.
É preciso coragem, mas precisamos nos livrar da bagagem extra e começar
a carregar somente os fardos que Ele coloca sobre nós. Isto não significa
eliminar coisas ruins na nossa vida, porque não deveria haver coisas ruins na
nossa vida! Significa dizer adeus
a coisas boas, coisas agradáveis, até coisas de sucesso, porque elas estão no
nosso caminho, roubando-nos o tempo e a energia que precisamos para buscar a
Deus e servi-Lo.
A partir do momento que você tem a sua vida
equilibrada diante de Deus, você pode começar a liderar outros na sua igreja na
adoração a Deus e na busca da Sua face.
Levará tempo, por isso seja paciente.
As pessoas não querem mudar. Ensine-as ternamente e mostre o seu exemplo
para elas. Algumas pessoas sairão da sua congregação e irão para onde é mais
seguro, mas não se desanime. Saiba que você está na vontade de Deus quando você
está tentando trazer o seu povo para mais perto Dele na sua experiência de
adoração. Satanás vai se opor a você, mas Deus irá defendê-lo.
Faça com que a sua pregação seja um ato de
adoração, e prepare cada mensagem e cada culto de tal maneira a “proclamar as
virtudes Daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”(1 Pe
2.9). Tenha em mente que a colheita não é no fim da reunião: é no fim dos
tempos. Ministre pela fé. Deus promete fazer o resto.
Deixe-me fechar com uma citação penetrante de
um dos meus pregadores favoritos, Frederick W. Robertson: “Repito, o homem não
tem opção para ser ou não ser um adorador. Um adorador ele não pode dexar de
ser - a única questão é decidir o que ele vai adorar. Todo homem adora - pois é um adorador nato”.
Warren W. Wiersbe
Extraído
de Real Worship (Adoração Verdadeira), de Warren Wiersbe. Publicado por
Thomas Nelson Publishers.