NUMEROLATRIA
“Muitas igrejas rejeitam o movimento de células por causa de uma suposta ênfase exagerada no crescimento numérico. A crítica comum é que existe uma preocupação exagerada em se contar o número de células, as multiplicações, os alvos de fé etc. Essa atitude, dizem eles, é o embrião de um espírito triunfalista que pode contaminar todo o movimento.”
"Numerolatria" é uma doença altamente contagiosa. Ela pode contaminar qualquer movimento ou modelo de igreja. As causas mais comuns desta enfermidade maligna são:
Marketing - Os números são, naturalmente, uma excelente promoção da igreja e do seu pastor. O respeito e a credibilidade de um ministério dependem, naturalmente, em grande parte, dos resultados numéricos.
Meios de Autopromoção - Aqueles que mais enfatizam os números são também os que mais exageram ou fazem arredondamentos convenientes para cima. É antigo o folclore de pastores que afirmam ter tantos membros, que não caberiam no prédio de reuniões, mesmo que um assistisse o culto em cima dos ombros do outro.
Competição - É notória a competição que existe entre as maiores igrejas de nossas capitais. Tal orgulho carnal leva os seus líderes a uma guerra de números.
Poder Político - Números traduzem poder político. Nas últimas eleições, os pastores de Goiânia anunciaram que a capital possuía 40% de evangélicos. Naturalmente, isso não é verdade. Era apenas um número que atendia aos seus interesses políticos.
A "numerolatria" poderá matar ou produzir conseqüências demolidoras na vida das igrejas que foram contaminadas. Veja algumas delas:
Alargamento da Porta - Com a necessidade de continuar crescendo muito e rápido, os líderes tendem a diluir a mensagem do Evangelho e a serem mais brandos nas questões éticas, a fim de atrair mais pessoas.
Desânimo - "Numerolatria" é uma obsessão e pode tornar a liderança insensata. Alvos demasiadamente grandes, projetos muito dispendiosos e uma sobrecarga sobre o povo podem levar a congregação ao desânimo.
Descrédito - Tanto a igreja como sua liderança podem cair no descrédito por causa dos exageros e do triunfalismo.
A "numerolatria" é uma doença transmitida pelo diabo. É conhecido o episódio em que Davi levantou o censo de Israel, em I Crônicas 21:1. "Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel."
A ênfase exagerada nos números pode ser um problema, mas pode ser também uma bênção, na obra de Deus. Não devemos pensar que Deus seja contra os números. Foi o próprio Deus quem ordenou a Moisés que contasse o povo de Israel, no livro de Números. "No segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito, no primeiro dia do segundo mês, falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai, na tenda da congregação, dizendo: Levantai o censo de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando todos os homens, nominalmente, cabeça por cabeça (Números 1:1,2).
Em todo o Velho Testamento, vemos as genealogias, que são uma espécie de ancestral do rol de membros de nossas igrejas. O próprio Jesus usou números em muitas ocasiões para ensinar verdades importantes. Ele contou a parábola das 100 ovelhas (Mt 18:2); a respeito de colheitas ele falou de rendimentos a 30, 60 e 100 vezes o número de sementes plantadas; por ocasião da pesca maravilhosa, alguém teve o cuidado de contar os peixes e ver que eram 153 grandes peixes (Jo 21:11).
Deus não possui aversão a números, pois Ele sabe quantos fios de cabelo temos em nossa cabeça. Além disso, temos no livro de Atos uma descrição sugestiva: no capítulo primeiro temos 120 pessoas reunidas; em Atos 2:41, já se diz que 3 mil foram acrescentados e no capítulo quatro verso quatro, ficamos sabendo que já eram 5 mil os homens agregados. Foi o próprio Espírito Santo quem nos deu esse relato; portanto, números, em si mesmos, não são maus. Isto nos leva à seguinte pergunta: por que os números incomodam tanto? Talvez seja por causa de uma outra enfermidade grave: a "numerofobia" - um medo exagerado dos números.
Aqueles que contraíram a "numerofobia", normalmente, gostam de teologizações do tipo “ se a porta é estreita e são poucos os que entram por ela, como podemos defender grandes igrejas?” Eles dizem que Jesus nos mandou cuidar das ovelhas, e não contá-las. Outros ainda afirmam que Jesus chamou apenas 12, e não toda a multidão, porque está interessado apenas na qualidade e não na quantidade.
Não quero diminuir a seriedade de questões como essas, mas, a meu ver, elas apenas são um sintoma de uma doença muito grave - a "numerofobia". Como toda doença, possui causas. Vejamos algumas delas:
Insegurança - Aqueles que detestam números, normalmente, não têm número algum para mostrar (ou se têm, são pequenos). Nesse caso, é como um mecanismo de defesa, para não ser confrontado com a falta de frutos e não vir a ser taxado de ineficiente ou incompetente. Ignorar as estatísticas é uma desculpa para não avaliar o próprio desempenho no ministério.
Incredulidade - Por detrás de todas estas teologizações que mencionamos existe um espírito de incredulidade. As teologizações tornam-se mais graves quando tentamos justificá-las com a própria Bíblia. A porta pode ser estreita, mas a vontade de Deus é que todo homem seja salvo. Jesus começou com 12, mas João viu em Apocalipse uma multidão que ninguém pôde contar.
Comodismo - Os números nos confrontam e nos forçam a buscar novas estratégias, a rever estruturas antigas e a reavaliar todo o trabalho. Em suma, eles podem ser completamente subversivos - podem mexer com a nossa comodidade.
Se a "numerolatria" é grave, a "numerofobia" pode ser devastadora. Se o paciente não se tratar, pode chegar ao óbito. Entretanto, a maioria não vai morrer, mas pode carregar algumas seqüelas, tais como:
Isolamento - A tendência das pessoas que têm aversão a números é se isolar. Suas igrejas se isolam, como se fossem uma ilha de qualidade num oceano de mundanismo. Todo grupo exclusivista sempre diz de si mesmo: “ somos poucos, mas de excelente qualidade”.
Estagnação - Se não somos honestos em avaliar nosso trabalho, métodos e estruturas, com base nos resultados esperados, a conseqüência natural é a estagnação. Uma boa crise de crescimento pode ser saudável para qualquer igreja.
Os Números Usados de Forma Correta
Os números, em si mesmos, não são bons e nem maus; tudo depende de como eles são usados. Vimos que existem duas doenças básicas no meio evangélico, quando o assunto são números. Gostaria de sugerir algum tratamento para esses que sofrem destas enfermidades.
Para aqueles que padecem da doença da "numerolatria", sugiro uma cirurgia para remoção do ego e doses diária de cruz. Coloque na cruz todo o desejo de honra e glória e deixe que Cristo seja visto e tenha a preeminência. Para aqueles que sofrem de "numerofobia", recomendo uma dose diária de poder do Espírito. Este remédio terá como efeito colateral uma enorme crise de crescimento, mas não se preocupe - o mal-estar passará e o resultado poderá ser visto em pouco tempo.
Fonte: Revista Videira