OS ANJOS NA BÍBLIA SAGRADA
A carta aos
Hebreus menciona os anjos nada menos que 13 vezes, 11 das quais nos dois
primeiros capítulos, onde o autor procura estabelecer a superioridade de Cristo
sobre os anjos (Hb 1.4-7,13; 2.2,15,16).
A razão para
esta abordagem foi possivelmente a exaltação dos anjos por parte de muitos
judeus no século I.
O autor,
escrevendo a judeus cristãos sentiu a necessidade de diferenciar a mensagem do
evangelho trazida por Cristo, e as muitas mensagens e mensageiros angelicais
que infestavam a crendice popular judaica no século I.
E no livro de
Apocalipse que temos a maior concentração no Novo Testamento do ensino sobre
anjos.
É o livro do
Novo Testamento que mais emprega a palavra aggelos (67 vezes).
Aqui os anjos
aparecem como agentes celestes que executam os propósitos de Deus no mundo,
como proteger os servos de Deus (Ap 7.1-3) e administrar os juízos divinos
sobre a humanidade incrédula e impenitente (Ap 8.2; 15.1; 16.1).
Apocalipse
está cheio das visões que o apóstolo João teve do céu, e os anjos aparecem como
habitantes das regiões celestes, ao redor do trono divino, em reverente
adoração a Deus e ao Cordeiro (Ap 5.11; 7.11), mediando ao apóstolo João as
visões e as instruções divinas (Ap 1.1).
Uma questão
que tem atraído o interesse dos intérpretes é o sentido da palavra
"anjo" em Ap 1.20, "os anjos das sete igrejas" (cf Ap
2.1,8,12,18; 3,1,7,14).
Alguns acham
que João se refere aos pastores das igrejas às quais endereça suas cartas, já
que em Malaquias os líderes religiosos são chamados de anjos
(MI 2.7).
Ou então, aos
mensageiros (aggelos) das igrejas que haveriam de levar as cartas às suas
comunidades.
O problema
com estas interpretações é que a palavra aggelos em Apocalipse nunca é usada
para seres humanos, mas consistentemente para anjos.
Por este
motivo, outros, como Origenes no século II, acham que João se refere a anjos
reais, já que este é o uso regular que ele faz da palavra no livro.
Estes anjos
seriam os anjos de guarda de cada igreja a quem João manda uma carta.
A dificuldade
óbvia com esta interpretação é que as advertências e repreensões das cartas
seriam dirigidas a anjos, e não aos membros da igreja.
Além do mais,
fica claro pelo fim de cada carta que elas foram endereçadas aos membros das
igrejas (2.7,11,17 etc).
Assim, outros
estudiosos têm sugerido que "anjos" representam o estado real de cada
igreja, o "espírito" da comunidade.
Esta idéia,
que no deixa de ser curiosa e estranha, tem sido adotada por alguns que
defendem que igrejas têm suas próprias entidades espirituais malignas, que se
alimentam dos pecados não tratados das mesmas(3).
Fica difícil
tomar uma decisão. Mas, já que é evidente que os anjos e as igrejas são uma
mesma coisa nestas passagens, a " interpretação que talvez traga menos dificuldades
é que aggelos (anjos) se refere aos pastores das igrejas.
Anjos em batalha espiritual
Uma outra passagem cm Apocalipse que merece destaque é a que descreve uma
batalha no céu entre Miguel e seus anjos, contra o dragão e seus anjos, onde
Satanás é derrotado e lançado á terra (Ap 12.7-9).
A que evento
histórico esta guerra celestial corresponde tem sido bastante discutido.
Para alguns,
refere-se á queda de Satanás no principio, quando revoltou-se contra Deus e foi
expulso dos céus. Para outros, a vitória final de Cristo, ainda por ocorrer no
fim dos tempos.
O contexto,
entretanto, parece favorecer outra interpretação, ou seja, que esta derrota de
Satanás nas regiões celestiais corresponde à vitória de Cristo, ao morrer e
ressuscitar, já que ela aconteceu, "por causa do sangue do cordeiro"
(Ap 12. 10;
cf. Jo 12.3 1; 16.1 l).
À semelhança
do Antigo Testamento, o Novo é igualmente reservado em narrar estas pelejas
celestiais, e limita-se a registrar dois confrontos do arcanjo Miguel com
Satanás (Jd 9; Ap 12.7-9).
Não temos
condições de saber quais as razões para estes embates entre anjos, e nem quão
freqüentemente eles ocorrem no misterioso mundo celestial.
Digno de nota é o fato que Miguel, que no Antigo Testamento aparece como
guardião de Israel, surge aqui em Ap 12.7-9 como defensor da Igreja, liderando
as hostes angélicas contra Satanás e seus demônios, que procuram destruir a
obra de Deus.
Sua área de
ação não e mais o território de Israel, mas o mundo, onde quer que a Igreja
esteja.
A constatação
deste fato deveria moderar a fascinação de muitos hoje pela idéia de espíritos
territoriais, maus ou bons, que seriam supostamente responsáveis por
determinadas regiões geográficas, e que se embatem em busca da supremacia sobre
aqueles locais.
É possível que
as nações ou outras regiões tenham seus príncipes angélicos, bons ou maus, mas
esta idéia não exerce qualquer função ou influência no ensino do Novo
Testamento, quanto aos anjos e á sua participação na luta da igreja contra os
"principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso" (Ef 6.12).
Enquanto que
em Daniel os principados e as potestades aparecem relacionados com determinados
territórios, no Novo Testamento eles aparecem não mais relacionados com
regiões, mas com este mundo tenebroso.
O conflito
regionalizado do Antigo Testamento tomou caráter universal e cósmico com a
vitória de Cristo.
O diabo e
seus príncipes malignos são vistos agora como dominadores, não de determinadas
regiões geográficas, mas "deste mundo tenebroso".
E os anjos agora servem aos servos de Deus, em
qualquer região geográfica do planeta, onde se encontrem.